Quando vi este rosto caindo no chão com os cachos em volta e enrolado em lã, lembrando uma foto de uma dama antiga, por um instante percebi a beleza que saía dos olhos, poças fundas de barro. Ali no interior enxerguei duas lanternas piscando, e entendi daonde e por quê vem para fora: não consegui só me ver, veja só que curioso. Eu vi você, nu.
Achei que a beleza tinha algo a ver contigo, porque era isso que refletia. Muitas vezes eu me esqueço do contorno do seu rosto, por exemplo. Não lembro do conjunto. Mas... Fixo a memória do olhar nos pelos bem clarinhos, dourados, embaixo do seu nariz, em volta da boca, e a mancha da sua expressão, algo tinha que se dispor a um rosto tão doce, com as covinhas sorrindo que lixam os dentes alinhados e retinhos e me esqueço do resto. As pintas de leopardo nas costas, quando bate a luz e elas vem na minha direção e a pele de leite e espinhos macios que me espremem, e a voz de acorde que fala pelo nariz de onde sai o seu cheiro, ah, o cheiro que se enfia nos meus pêlos e cola no meu peito com epóxi como um corpo estranho.
Aí uma coisa fica suspensa no ar, uma pausa em semibreve. Já tentou segurar o ar por um tempo?
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