Eu nasci crespa. Ou, cabelo ruim, como dizem. Sarará Crioulo, Loirinha Bombril. Se tivesse sido no hemisfério norte, seria a "cachinhos dourados" perfeita.
Mas não: abaixo do equador, cabelo crespo tem estigma de mau cuidado.
Coisa de pobre. Piaçava.
Aí, eu não deixava colocarem a mão no meu cabelo. Ninguém entendia, como eu:
cabelo enrolado não se penteia. Resultado: corte joãozinho, Menino Peralta.
Me castraram. Banho e Toza.
Daí pra frente, o cabelo nunca mais foi o mesmo, e na quarta série os meninos me chamavam de BomBril.
Demorei pra entender minha relação com a minha juba:
Sansão.
O poder do leão,
a Força.
Eu não quero mais ficar com a cabeça alinhada
com os fios comportados, de acordo.
E como as pessoas se incomodam com isso!
_"vai pentear o cabelo, menina!"
Não... Não quero domar minha fúria.
Meu poder, meu aspecto, minha moldura.
Na foto, Chico César, e sua polêmica. Ele que também já cantou... "se eu quero pixaim, deixa..."
deixa, deixa a madeixa balançar!
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