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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tarde, é tarde

É só azul este estado, esta incerteza exata de querer bem e se sentir pequena e impotente perante um sentimento nascituro ou natimorto, que observa, contando em compassos, minha angústia enxertando raízes.
Quando crescer do tamanho de uma planta pré-histórica, há de se podar os galhos sem sentido que plantei, há de se moldar a obra como um jardineiro. Ela vai crescer metade na sombra, metade no sol.

Um ser são é um espelho límpido. Só reflete a si mesmo. Ou talvez uma estátua inabalável de chocolate, intacta em meio a fome que não passa, que brilha linda e é suculenta, derrete de prazer na boca, mas para que estragar tamanha beleza por um instante de gula?
A gula é só mais uma compulsão, dependência desta insegurança insalubre, o vício de me meter entre esta música ensinada nas classes e algumas frases como "o cheiro de sangue tá no ar" de um bandido literato, e a sua mão no meu corpo deitado no sol e neste azul todo me faz querer viver para sempre neste bandoleón, olhando o mundo de dentro de um tubo de ensaio redondo, nu. Numa vista panorâmica de todo o universo. Um micróbio destemido que não sabe o tamanho do perigo que lhe espera num mundo asséptico e estéril.
Uma entre tantas moléstias que são selecionadas pela vida, não sei se sou forte o suficiente. São tantas as doenças que pegamos por aí, numa mesa de bar cheia de mulheres. Sou só mais uma, e um pano com álcool me desfaz, apesar de querer te adoecer se a oportunidade me vier. Micróbio não tem medo de nada, mas eu tenho medo destes testes in loco, destas experiências de testar minha segurança o tempo todo e ficar na caçada o tempo todo, ser forte o tempo todo, procurando vítimas vulneráveis para te alcançar. Na verdade, um micróbio que tem síndrome de Risoflora, que quando está contigo quer gostar e quando está um pouco mais junto quer... bom, dizem que se falar o nome da doença, ela pega mesmo. Um micróbio pequeno, acuado e besta que quer saber a força que tem, quer ser escolhido especialmente. Não há no mundo outra criatura parecida.
Quando não podemos nos curar sozinhos, significa que dependemos mesmo? Ou só quando a saudade sem socorro (música maldita) vem é que precisamos nos tratar? O curioso vem de só você me olhar e direcionar seu azul com contornos de um todo vermelho para mim e eu me perco numa cultura proliferada de cheiros e pelos, que me faz ficar procurando na prateleira do supermercado o cheiro do amaciante da sua roupa.

Um antibiótico com gelo e limão, por favor.

3 comentários:

  1. Por indicação da Marina, vim ler seu blog.
    Este texto me chamou atenção. Tão lindo, suave e profundo ao mesmo tempo.
    Parabéns. Pra vc e pra mim que te descobri rs. Pra Marina tb, pela ajuda rs.

    Abraço.

    www.noscontudo.blogspot.com

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  2. o cheiro do amaciante da sua roupa.

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  3. entendo perfeitamente a patologia, talvez discorde do remedio, por ser apenas paliativo, e ao mesmo tempo a unica resposta possivel...
    Dilema (ou patologia estritamente humana)descrito,pela primeira vez que vi pelo menos, ha uns 500 anos atras por shakespeare e insoluvel, pelo menos nesse tipo de sociabilidade que temos hoje em dia...
    Ai vc me perguntaria: adaptar-se ou negar tal realidade coisificada, doente -como vc mesmo diz.
    Eu diria diferente desse ultimato do sim ou não - maniqueismo; Se essa eh a miseria que a realidade me apresenta como possibilidades, então minha única chance eh DESAFIAR A MISERIA DO POSSÍVEL.
    hahhhahaha ficou muito filosofico... nao sei se me fiz entender... mas fazer o que neh são 4:29 da manhã e acabei de conhecer seu blog;;;
    Ai nao resisti... resolvi postar um comentario filosofico...
    Ah eh... conto com sua presença no curso da teoria da revolução permanente heheehhe
    Eu nao perco nenhuma oportunidade!!!!
    beijos e parabens pela iniciativa -e coragem - do blog para expor coisas tao profundas sobre o desenvolvimento de sua individualidade, de certa forma te invejo... mas de uma forma positiva.

    danilo kuno

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